“Pesquisas de opinião são ferramenta essencial da democracia” afirma Rodolfo Pinto, do PoderData

Palestrantes falam sobre cenário de desconfiança em pesquisas eleitorais e a importância de tais mecanismos para a legitimidade e manutenção da democracia

Por Vinícius Munhoz | Edição: Natasha Meneguelli | Foto: Maria Ferreira dos Santos

“Pesquisa mentirosa, publicada mil vezes, não fará um presidente da república”. Foi assim que Jair Bolsonaro, em março deste ano, contestou mais uma vez a legitimidade das pesquisas eleitorais. Foi neste cenário de desconfiança propagada pelo próprio presidente que a palestra “Desafios da pesquisa eleitoral em 2022” aconteceu, como parte do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. “Pesquisas de opinião são ferramenta essencial da democracia”, diz Rodolfo Costa Pinto, sócio-diretor e coordenador do PoderData, que participou do painel ao lado de Luciana Veiga, professora da UNIRIO e diretora da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), e do mediador Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA.

Para Rodolfo, a questão da desconfiança frente às pesquisas eleitorais, apesar de mais intensa atualmente, acontece em todas as eleições, a cada dois anos. De acordo com os palestrantes, muitas pessoas esperam que a pesquisa reflita exatamente os resultados das votações, mas este não é o objetivo dos levantamentos. As pesquisas eleitorais “são um retrato do momento, e não uma previsão”, complementou Luciana.

A desinformação também é uma das principais causas da desconfiança em relação às pesquisas, como ressalta a pesquisadora: “[O discurso de fraude] está muito presente em dezenas de eleições nos últimos tempos”. Ela diz que “quando as pessoas percebem algo muito díspar [entre os resultados da pesquisa e da eleição]”, elas ficam mais desconfiadas.

Rodolfo Costa Pinto, Luciana Veiga e Fábio Zambeli, respectivamente da esquerda para direita, durante palestra no 17º Congresso ABRAJI. (Foto Maria Ferreira dos Santos)

Nesse sentido, algo visto de forma muito positiva pelos pesquisadores é acompanhar a curva média das pesquisas eleitorais, em vez de olhar para pesquisas isoladas. O Agregador de Pesquisas (Poder 360) traz esses resultados, que melhoram a visualização da convergência de resultados entre os diferentes estudos e passam maior legitimidade, como comenta Luciana.

Outro ponto citado foi a possível influência das pesquisas de opinião nas eleições. “Não há nenhum estudo que indica que quem está na frente (das pesquisas) vai ser beneficiado”, ressaltou o coordenador do PoderData. Luciana ainda expôs resultados de levantamento do Eseb (Estudo Eleitoral Brasileiro), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que mostra que somente 1,6% dos entrevistados se orientam pelas pesquisas eleitorais, atrás de televisão (20%) e amigos e familiares (17%).

Por outro lado, a diretora da ABCP relatou que as consequências para o sistema político podem surgir de outra maneira. “Ela indica quais campanhas estão mais fortes e, ao fazer isso, elas atraem mais recursos”, além de atenção da mídia, comenta. Antes, com o financiamento de empresas, isso era ainda mais forte. Ela conclui que, atualmente, apesar de menor, o mesmo movimento é observado no financiamento público de campanhas.

O destaque e a atenção dados à metodologia da pesquisa são outro ponto que afeta a credibilidade dos institutos responsáveis pelos levantamentos. Rodolfo contou que, durante a pandemia, a necessidade de realizar as entrevistas de forma virtual, por telefone ou internet, teve impacto nos estudos. “Apesar dos questionamentos, estamos em um momento de muito mais discussão sobre metodologia, das pessoas entenderem a diferença de pesquisa via telefone, face-a-face, com pessoa entrevistando ou robô”, destacou o pesquisador.

Segundo o coordenador do PoderData, a dificuldade de realizar pesquisas fica maior a cada ano. A taxa de resposta vem caindo, e há obstáculos para atingir locais com características mais específicas, como bairros de classe alta e comunidades controladas por grupos criminosos. “Já ouvi falar de casos de pessoas fazendo pesquisa face-a-face em uma determinada cidade e um juíz da comarca local dizer que não era possível fazer pesquisa naquele lugar”, conta o membro do PoderData. “O próprio judiciário às vezes atrapalhando o trabalho de pesquisa profissional”, conclui.

A cobertura oficial do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ, sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto. Conta com o apoio institucional da Abraji, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo.

Link da matéria no blog da ABRAJI: https://congressoabraji.wordpress.com/2022/08/05/pesquisas-de-opiniao-sao-ferramenta-essencial-da-democracia-afirma-rodolfo-pinto-do-poderdata/